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Linfogranuloma Venéreo

O linfogranuloma venéreo (LGV), também chamada de mula, bubão, doença de Nicolas-Favre-Durand e quarta moléstia venérea, é uma doença infecciosa sistêmica, exclusivamente de transmissão sexual, caracterizada pelo envolvimento do sistema linfático 1. É causada pela bactéria Chlamydia trachomatis sorotipos L1, L2 e L3, que pode infectar homens e mulheres, embora seja mais comum nos primeiros 4. Embora tenha uma distribuição universal, émais comum em regiões tropicais e subtropicais6.

A doença é transmitida pelo contato sexual (sexo vaginal, retal ou oral), através da penetração da bactéria por meio da pele ou mucosa com solução de continuidade. O período de incubação é de 1 a 3 semanas. É considerada uma doença “silenciosa”, porque 85 a 90% dos infectados não apresenta sintomas, por isso não buscam tratamento e, consequentemente, são veiculadores da doença. Os sintomas, quando acontecem, são devido à inflamação resultante da reação do sistema imune à infecção 4. Sua evolução clínica apresenta 3 fases 1:

Primária: No local de penetração do agente etiológico há aparecimento de pápulas, vesícula, pústula ou erosão fugaz e indolor. No homem, acomete o sulco balonoprepucial, o prepúcio ou meato uretral e na mulher, acomete fúrcula cervical, clitóris, pequenos e grandes lábios;

Secundária: Caracteriza-se por adenite inguinal, geralmente unilateral, firme e pouco dolorosa (bubão), que pode ser acompanhada de febre e mal-estar;

Terciária: Quando há drenagem de material purulento por vários orifícios no bubão, com ou sem sangue, que, ao involuir, deixa cicatrizes retraídas ou quelóides

Nos homens, a infecção por C. trachomatis é caracterizada por dor à micção e secreção, geralmente após a primeira micção pela manhã. A obstrução dos vasos linfáticos, devido a cicatrizes resultantes da inflamação pode resultar em aumento da genitália externa masculina e a inflamação do epidídimio e esterilidade. Ainda podem ocorrer faringite e proctite como resultado de sexo oral ou anal 4. As mulheres podem não apresentar sintomas ou apresentar sintomas leves de fluxo vaginal e inflamação do cervix. Queimação ao urinar é sinal de que há infecção na uretra. Pode ocorrer infecção retal (proctite) e a bactéria pode migrar devido a proximidade com a área genital e causar salpingite (inflamação das trompas de falópio) ou mesmo causar sérios danos ao sistema reprodutor feminino dificultando ou impedindo a gravidez, ou levando à possível gravidez ectópica 4.

O gênero Chlamydia foi descrito pela primeira vez em 1907 pelo médico alemão Ludwig Halberstädter (1876-1949) e pelo zoólogo e parasitologista tcheco Stanislaus von Prowazek (1875-1915) a partir da conjuntiva de um orangotango (Mammalia, Primates) previamente infectada com tecido de pacientes com tracoma 5. A C. trachomatis (Busacca 1935) Rake 1957, como todas as bactérias da família Chlamydiaceae, é um coco Gram negativo, parasita intracelular obrigatório 6, ou seja, totalmente dependentes de uma célula hospedeira para seu crescimento e replicação. É também responsável pela maior parte das conjuntivites que ocorrem em recém-nascidos e pelo tracoma, maior causa de cegueira nos países em desenvolvimento (sorotipos A, B, Ba e C) 3.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que a infecção por C. trachomatis foi a segunda doença sexualmente transmissível (DST) mais frequente no mundo em 2005 e 2008, responsável por mais de100 milhões de casos novos, dos quase 500 milhões de casos ocorridos em indivíduos entre 15 e 49 anos 7. No Brasil, o Programa Nacional de DST/AIDS estima em quase 2.000 casos novos a cada ano, com incidência de 3,5% nas mulheres e 2,3% nos homens 2.

É uma infecção facilmente tratável com antimicrobianos, com 95% de sucesso de cura 4.

Referências utilizadas:

  1. BRASIL Ministério da Saúde. Doenças infecciosas e parasitárias. Guia de bolso.  8a edição revista. 2010.
  2. MARQUES CAS, MENEZES MLB Infecção genital por Chlamydia trachomatis e esterilidade. DST – J Bras Doenças Sex Transm 17(1): 66-70, 2005
  3. PEREIRA VV.  Infecções por Chlamydia trachomatis em Saúde Pública. Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em Microbiologia. Departamento de Microbiologia. Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte. MG 2009
  4. POMMERVILLE, JEFFREY C. Alcamo’s Fundamental’s of Microbiology, 9th ed. 2011.
  5. POSPISCHIL, A. From disease to etiology: historical aspects of Chlamydia-related diseases in animals and humans, Drugs Today 2009, 45(Suppl B):141-146.
  6. TORTORA, GERARD J., FUNKE, BERDELL R., CASE, CHRISTINE L. Microbiologia, 10ª Ed.  ARTMED, São Paulo:, 2012
  7. WHO Library Cataloguing-in-Publication Data. Global incidence and prevalence of selected curable sexually transmitted infections. World Health Organization. 2008
Como citar esta página: – Guerreiro H, Brazil TK. Linfogranuloma Venéreo. Museu Interativo da Saúde na Bahia. Disponivel em: https://www.misba.org.br/doenca/doencas-bacterianas-sexualmente-transmissiveis/linfogranuloma-venereo/. Acesso em: 07/12/2024 03:03:28.