Salvador

Salvador é a cidade mais antiga do país, embora não seja nem a mais urbanizada nem a mais populosa. O seu crescimento se deu sem planejamento e o crescimento populacional nas últimas décadas tem sido considerado explosivo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, há muitas décadas continua sendo a terceira cidade mais populosa do país, com 2,71 milhões de habitantes (http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2012).

Antes da sua fundação, a ocupação portuguesa em solo brasileiro já se dava desde a implantação do sistema das capitanias hereditárias, em 1534, com o objetivo de resguardar toda a costa das invasões francesas e holandesas. O primeiro donatário da Capitania da Baía de Todos os Santos, Francisco Pereira Coutinho, chegou em 1536 e fundou uma povoação chamada Vila do Pereira (a qual passou a se chamar Vila Velha depois da fundação da cidade) no alto de Santo Antônio da Barra, aproximadamente no local onde hoje está o farol da Barra 1.

A cidade foi fundada em 1549, por ordem do rei dom João III de Portugal, com o objetivo de ser o centro da colônia portuguesa na América, quase 50 anos depois da chegada de Pedro Álvares Cabral, em 1500. Foi planejada como uma cidade-fortaleza, com uma estrutura administrativa judicial, fiscal e militar diretamente subordinada a Lisboa (Portugal), com o nome de Cidade do São Salvador da Bahia de Todos os Santos, tendo sido a capital e sede da administração colonial do Brasil até 1763.

A construção da cidade veio com a necessidade de instituir um governo geral para a colônia, consequência de uma política para reforçar a presença do reinado português e apoiar os donatários das capitanias. O primeiro governador geral, Tomé de Sousa, chegou em 29 de março de 1549 e escolheu um terreno a 60 metros de altitude, no ponto mais alto da região (atual região da praça Castro Alves e Barroquinha), para a construção da cidade. Sua escolha justificou-se pelo terreno ter bons ares, águas abundantes e límpidas (nascente do atual rio das Tripas) e boas condições de defesa. A cidade foi concebida no estilo das cidades medievais e das cidades do império português em outros continentes 1 .

Com o governador vieram nas embarcações mais de mil pessoas: 320 nomeadas e recebendo salários. Entre elas, o primeiro médico nomeado para o Brasil por um prazo de 3 anos, Jorge Valadares, o farmacêutico Diogo de Castro e seiscentos militares, além e fidalgos, degredados e os primeiros padres jesuítas, como Manuel da Nóbrega, João Aspilcueta Navarro e Leonardo Nunes 1. Salvador rapidamente se tornou o principal e importante centro de indústria de açucar e do comércio de escravos. O comércio foi facilitado devido à localização estratégica do porto de Salvador, do ponto de vista náutico e militar. As águas calmas da baía de Todos os Santos tornaram-se um lugar privilegiado para as intensas transações comerciais. O seu porto servia como um entreposto de todo tipo de mercadoria trocada no âmbito do império português, sendo o açúcar o de maior destaque 3.

Na parte alta, localizava-se o centro político-administrativo, como os prédios do governador, o palácio do bispo, da Real Fazenda, da Câmara, cadeia e casas de moradores. Tratava-se de construções precárias, uma vez que os materiais utilizados nas edificações eram de taipa. Defronte ao mar, localizavam-se pesados canhões prontos para proteger a cidade. Na parte baixa, localizava-se o porto e no seu entorno toda a vida comercial da cidade com os seus armazéns, trapiches e lojas que vendiam produtos de diversas naturezas, vindos de todos os cantos do império. A ligação entre as duas partes da cidade se dava pelas ladeiras e pelo guindaste dos padres, no colégio dos Jesuítas, por onde subiam e desciam mercadorias. Havia ainda um rossio demarcado junto ao núcleo urbano que era utilizado para a pastagem de animais domésticos e para a coleta de lenha, fundamental nos afazeres caseiros da época 3.

Na época de sua fundação, estima-se que viviam na cidade de Salvador cerca de 1.500 pessoas, em 2 praças e 3 ruas 3,4. Quase 100 anos depois a cidade contava com cerca de 20 mil pessoas, mas a maioria composta por escravos (41,8%) 3,2. Ao longo do século XVIII, Salvador manteve o posto de cidade mais populosa do Brasil, estimando-se em 1775 35.253 pessoas habitando pelo menos 11 bairros 2,5, chega ao século XIX com 65.500 habitantes (1835) 2 e ao século XX com 300.000 habitantes (1930) 5.

Salvador foi, portanto, a primeira capital do Brasil e assim permaneceu durante 214 anos, quando a capital foi transferida para o Rio de Janeiro pelo Marquês de Pombal, em 1763.

A cidade formou uma importante base para o movimento de independência do Brasil e foi atacada por tropas portuguesas em 1822, antes de ser libertada em 2 de julho de 1823 5.

 

Referências utilizadas:

1. JACOBINA AT, BATISTA AG, MORAES ARO, RICO AM, SANTOS ABS, CORRÊA BM, SOARES CS, MACHADO DB, PAIXÃO ES, ALMEIDA ER. História e Saúde na Bahia. http://www.isc.ufba.br/saudeehistoria/Artigo_Historia_e_Saude_na_Bahia.pdf
2. REIS JJ. Rebelião Escrava no Brasil. A história do levante dos malês em 1835. Edição revista e ampliada. São Paulo. Companhia das Letras, 2003.
3. RIBEIRO AV. A cidade de Salvador: estrutura econômica, comércio de escravos e grupo mercantil (c.1750 – c.1800) Rio de Janeiro: UFRJ, Tese (Doutorado) – UFRJ/IFCS/ Programa de Pós-Graduação em História Social, 2009.
4. SOUZA GS. Tratado descriptivo do Brazil, 1587. Typographia Universal de Laemmert, Rio de Janeiro, 1851.
TAVARES LHD. História da Bahia. São Paulo. Editora UNESP. Salvador, BA, EDUFBA, 2001.

Como citar esta página: – Brazil, T.K.. Salvador. Museu Interativo da Saúde na Bahia. Disponivel em: http://www.misba.org.br/salvador/. Acesso em: 18/03/2024 23:08:05.