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HEROIS DA SAÚDE

tropicalistas

(1820 - 1875)
(1820 - 1882)
Silva Lima
(1826 - 1910)

Silva Lima

1826 1910
  • 1867Primeiro médico a descrever o ainhum, doença dos pretos africanos e afro-descendentes.
  • 1867Publicou o Código de Ética (traduzido da Associação Médica Americana).
  • 1867Publicou os estudos sobre o beribéri e suas diferentes variedades clínicas. Manteve em sua casa um criadouro de animais de laboratório, considerado o primeiro do Brasil, para as experiências do grupo.
  • 1872 Publicou o livro “Ensaio sobre o beribéri no Brasil”, compilando os cerca de 20 trabalhos seus sobre o assunto.
Ilustração do Dr.Silva Lima. Fonte: Gazeta Médica (1966-67)

Ilustração do Dr.Silva Lima. Fonte: Gazeta Médica (1966-67)

João Francisco da Silva Lima nasceu em Vilarinho, Portugal, no dia 15 de janeiro de 1826. Chegou à Bahia em 1840, aos quatorze anos de idade. Trabalhou no comércio e estudou medicina na Faculdade de Medicina da Bahia – FAMEB, doutourando-se em 1851 após ter defendido a tese intitulada: “Dissertação Filosófica e Crítica Acerca da Força Medicatriz da Natureza”.

Durante sua longa carreira, fez diversas viagens pelos países europeus, visitando importantes centros de investigação e mantendo a comunidade médica local informada sobre os avanços da medicina européia.Silva Lima é considerado médico brasileiro, pela formação e natureza de seu coração. Naturalizou-se cidadão brasileiro em 1862.

Dentre os estudos realizados, tem destaque a sua pesquisa sobre o Ainhum, “Estudo Sobre Ainhum, moléstia ainda não descrita, peculiar à raça etiópica e afetando os dedos mínimos” publicado em 1867 na Gazeta Médica da Bahia. Além deste, um estudo baseado em observações meticulosas, “A propósito de certa doença ainda não identificada: o beribéri”.

João Francisco da Silva Lima publicou cerca de vinte comunicações sobre o beribéri nas páginas da Gazeta Médica da Bahia (de 1866 a 1868) sob o título de “Contribuição para a história de uma moléstia que reina actualmente na Bahia, sob a forma epidemica, e caracterisada por paralysia, edema e fraqueza geral”.  Essas comunicações foram baseadas em 51 casos, observados clínica e anatomopatologicamente em um período de novembro de 1863 a dezembro de 1866, em que contou com o Dr. Paterson e os conhecimentos especializados anátomo patológicos de Wucherer. Em 1855 juntamente com o médico luso-germânico Otto Wucherer (1820-1872) e o médico inglês John Paterson (1820-1882) diagnostica a cólera-morbo, ambas doenças infecciosas que espalharam-se pelo resto do Brasil. Contra a opinião de muitos colegas médicos, e oposição da classe médica local, por conta disso aparecerem contestações não só no congresso médico, mas na imprensa. Sendo atacados, ridicularizados e chamados de terroristas (levando a população ao susto). Mas a suspeita foi evidenciada e confirmada, pois a moléstia tornou-se endêmica e houve o crescimento do número de casos. Em 1872 essas comunicações foram publicadas na forma de livro: “Ensaio sobre o beribéri no Brasil”. Não somente se destacou por seus conhecimentos profissionais, mas também por sua impecável conduta deontológica; foi ele quem traduziu e comentou na “Gazeta Médica da Bahia” o “Código de Ettica Médica adoptado pela associação Médica Americana”.

GAZETA MÉDICA DA BAHIA

A Gazeta Médica da Bahia (GMB), lançada em 10 de julho de 1866, divulgou os primeiros trabalhos significativos de medicina experimental no Brasil. Na década de 1860, do século XIX, surgiu na Bahia um grupo de 14 médicos nacionais e estrangeiros, fora do circuito acadêmico e da burocracia estatal, dedicados à prática de uma medicina voltada para a pesquisa da causa das doenças tropicais que acometiam as populações pobres do país, principalmente negros e escravos. Eles se reuniam quinzenalmente e revezadamente na casa de cada um deles, para discutir assuntos de interesse clínico. Foi esse núcleo de profissionais que posteriormente recebeu o nome de Escola Tropicalista Baiana, mas não se constituiu como uma instituição de ensino formal.

Capa da Gazeta Médica da Bahia - Volume IX - Tomo I. Fonte: Julian Livros

Capa da Gazeta Médica da Bahia – Volume IX – Tomo I. Fonte: Julian Livros

O grupo de tropicalistas chegou a contar com 20 a 25 homens e posteriormente com 30 médicos da Faculdade de Medicina da Bahia e 86 a 100 clinicando na cidade, mas isto, infelizmente, representava a minoria da comunidade médica baiana. Este movimento teve como propulsor o médico inglês John Paterson (1820-1882), juntamente com o médico luso-germânico Otto Wucherer (1820-1872) e o médico português José Francisco da Silva Lima (1826-1910). Estes médicos estrangeiros são também considerados os precursores e um marco na Medicina Experimental no Brasil, no âmbito das moléstias tropicais, na segunda metade do século XIX.

A Gazeta Médica da Bahia (GMB) foi crucial para o sucesso dos Tropicalistas e constituiu sem dúvida, um acontecimento marcante na história da medicina do Brasil. Os Tropicalistas estavam interessados não apenas na medicina conduzida pela erudição clássica ou posição política e social, mas na medicina conduzida pela excelência científica. Dos quarenta e nove trabalhos publicados, vinte e oito estão presentes na Gazeta Médica da Bahia (1866-1869). Circulou regularmente entre 1866 e 1934, como um dos melhores e mais caros patrimônios de cultura do Brasil. Não há exemplo no Brasil, de um periódico que tivesse vida tão longa, mais de um século. Também não há outro que tenha contribuído tanto e com singular originalidade para o conhecimento de problemas básicos da patologia regional. Cumpriu fielmente os princípios a que se propôs no seu primeiro editorial, dentre os quais lutar pela união, dignidade e independência da profissão de médico e estudar as questões no campo da medicina que mais particularmente interessam ao nosso país. Os “tropicalistas” contribuíram para a reformulação do modelo até então aceito da classificação de doenças brasileiras, questionando os conhecimentos dos europeus sobre os problemas de saúde pública no Brasil.

Para entender as doenças no Brasil rejeitaram a ideia de que a raça, o clima dos trópicos e de que os habitantes dos trópicos degeneravam irreversivelmente. Defendiam a ideia de que a maioria das doenças era universal, mas que a umidade e o calor as exarcebavam, assim como as particularizavam. Costumavam associar as doenças nos trópicos à pobreza, má nutrição, falta de saneamento, e às más condições de vida dos escravos e dos mais pobres. Desenvolveram, assim, trabalhos originais para a época em que foram produzidos, especialmente descobertas relacionadas à ancilostomíase, à filariose (elefantíase), ao ainhum (alteração nos dedos do pé), contribuindo para promover debates sobre parasitologia (estudo dos parasitas), e algumas doenças como a beribéri (falta de vitamina C), a tuberculose, a lepra, dracunculose e o máculo (diarréia que acometia os escravos novos).

A escola Tropicalista Bahiana.  Fonte: Gazeta Médica (1966-67)

A escola Tropicalista Bahiana. Fonte: Gazeta Médica (1966-67)

O espaço institucional de produção do conhecimento as discussões dos médicos da Escola Tropicalista Bahia, sobre os casos clínicos atendidos na Santa Casa da Misericórdia de Salvador; a forma de produção do conhecimento foi o laboratório, com a bancada, a cobaia, o cadinho e o microscópio; e a Gazeta Médica da Bahia, o veículo de difusão e validação do conhecimento produzido. Embora alguns professores da Faculdade de Medicina da Bahia participassem de suas atividades, os membros fundadores não conseguiram se integrar ao corpo docente dessa instituição de ensino. Se a Escola Tropicalista Baiana fosse reconhecida pela Faculdade de Medicina da Bahia, seria a primeira Instituição científica de Medicina Tropical no Mundo. A prática e ensino dessa medicina eram exercidos informalmente no Hospital da Santa Casa da Misericórdia da Bahia, e a divulgação dos estudos realizados pelo grupo era feita através da Gazeta Médica da Bahia. A partir de 1896, a Escola Tropicalista Bahiana entra em decadência, com a morte de Wucherer (em 1872) e Paterson (em 1882) e a figura de Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906), um de seus pesquisadores, que abandona o estudo da Bériberi. Ele constata que não existe, na Bahia, possibilidade de se efetuar pesquisa rigorosamente científica, por falta de pessoal especializado, equipamentos de laboratórios e materiais e recursos. Em 1897, aponta a decadência do ensino teórico e prático da Faculdade de Medicina e encerra a carreira de patologista de doenças tropicais.

Referências:

  • CONI, Antônio Caldas. A Escola Tropicalista Baiana. Bahia: Livraria Progresso Editora, 1952. (IHGB)
  • PEARD, Julyan G. The Tropicalista School of Medicine of Bahia, 1860-1889. Columbia, USA: UMI, 1990. (BCOC)
  • Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832 – 1930) Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz.
  • FALCÃO, Edgard de Cerqueira. Contribuições Originais da “Escola Tropicalista Baiana”, 1975
  • TORRES, L. – Os grandes clínicos do segundo reinado (1) – Da cidade de Salvador, Bahia. F. MÉD.(br), 80(5):709-713, 1980.
  • SILVA LIMA, J.F. 1906. Traços biográficos de Otto Wucherer. Gazeta Médica da Bahia, 38:3-28
  • BARROS, Pedro Motta de. 1997-1998. Alvorecer de uma nova ciência: a medicina tropicalista baiana. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, 10(1):151-172.–
Como citar esta página: – Brazil, T.K. (organizadora), Soeiro, S. M., Lira-da-Silva, R. M.. João Francisco da Silva Lima. Museu Interativo da Saúde na Bahia. Disponivel em: https://www.misba.org.br/heroi/joao-francisco-da-silva-lima/. Acesso em: 29/03/2024 10:35:33.