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HEROIS DA SAÚDE

tropicalistas

Otto Wucherer
(1820 - 1875)
(1820 - 1882)
(1826 - 1910)

Otto Wucherer

1820 1875

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  • 1849Confirma a febre amarela no Brasil e seu caráter contagioso, diagnosticada por John Paterson.
  • 1853Implanta um hospital na sua casa para atender a pacientes estrangeiros.
  • 1855Diagnostica junto com Paterson, a cólera-morbo e seu caráter contagioso, contestando os outros médicos baianos.
  • 1867Realiza e publica as primeiras pesquisas no Brasil que relacionam zoologia, clínica e tratamento de acidentes por serpentes.
  • 1868 Identificou a presença de microfilárias do ancilostomideo que depois ia se chamar Wuchereria bancrofti (em sua homenagem).

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Otto Wucherer                   Fonte: UFBA

Otto Wucherer Fonte: UFBA

Otto Edward Heinrich Wucherer nasceu em 07 de julho de 1820 na cidade do Porto, Portugal, onde viveu até seis ou oito anos. Era filho de pai alemão e mãe holandesa e seu pai, abastado comerciante, estabeleceu-se em Salvador em época de intensa imigração de alemães (1828-1830).

Foi enviado a Hamburgo pata estudar, mas ficou órfão de pai e sem recursos para prosseguir nos estudos. Teve que trabalhar para se manter e custear as aulas, empregando-se como prático de farmácia. Concluída a aprendizagem de humanidades imprescindível ao ingresso em curso superior, matriculou-se em 1836 na faculdade de Medicina da Universidade de Tubingen (Wurtemberg), pela qual diplomou-se em junho de 1841. Defendeu a sua tese de doutoramento intitulada: “Mutationibus quase syphilis ejusque medendae ratio subiit” (Sobre as mutações da sífilis e a razão da sua cura).

Trabalhou como assistente no St Bartholomew’s Hospital e foi eleito membro da sociedade de cirurgia de Londres. Trabalhou, logo a seguir, em Portugal, transferindo-se em 1843, para o Brasil.

Exerceu medicina, a princípio em duas cidades.  do interior da Bahia (Nazaré e Cachoeira), fixando-se por fim na capital (Salvador), em 1847. Otto Wucherer é considerado o precursor da medicina experimental no Brasil. Um dos primeiros trabalhos de impacto de Wucherer foi em 1849, quando ele confirma a febre amarela no Brasil, diagnosticada por Paterson.


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Sta Casa de Cachoeira.

Sta Casa de Cachoeira.

Para entender as doenças no Brasil, Wucherer assim como seus demais colegas da Escola Tropicalista rejeitaram a ideia de que a raça, o clima dos trópicos e de que os habitantes dos trópicos degeneravam irreversivelmente. Defendiam a ideia de que a maioria das doenças era universal, mas que a umidade e o calor as exarcebavam, assim como as particularizavam. Costumavam associar as doenças nos trópicos à pobreza, má nutrição, falta de saneamento, e às más condições de vida dos escravos e dos mais pobres. Desenvolveram, assim, trabalhos originais para a época em que foram produzidos, especialmente descobertas relacionadas à ancilostomíase, à filariose (elefantíase), ao ainhum (alteração nos dedos do pé), contribuindo para promover debates sobre parasitologia (estudo dos parasitas), e algumas doenças como a beribéri (falta de vitamina C), a tuberculose, a lepra, dracunculose e o máculo (diarréia que acometia os escravos novos). Insistiam que a  febre amarela era doença contagiosa, embora desconhecendo a forma de contágio, mas foram rechaçados e acusados de causar terror na população e os casos se multiplicaram de maneira alarmante, mostrando que eles estavam corretos no diagnóstico da doença e na sugestão do contágio. Em 1855, Wucherer diagnosticou, junto com Paterson e Silva Lima, a cólera-morbo.

Na Gazeta Médica da Bahia, Wucherer publicou três trabalhos sobre as serpentes e seu tratamento; nestes artigos, além de referir-se às serpentes de importância médica no Brasil, de acordo com sua dentição e o seu veneno, o autor traz uma chave sistemática de diferenciação de espécies peçonhentas das não peçonhentas, além de desmistificar a confusão relacionada à conhecida cobra-de-duas-cabeças (Amphisbaena alba e Siphonops interrupta) e o lagarto (Ophiodes striatus). Ele descreveu duas espécies de serpentes, em 1861, Elapomorphus scalaris e Geophis guenteri, além de coletar outras duas espécies descitas mais tarde por Gunther. Foi pioneiro no estudo das serpentes e ofidismo no Brasil, bem como seu tratamento. Em outros dois artigos, Wucherer esclareceu crenças populares e descreveu o ofidismo e seu tratamento para a época, questionando a sua eficácia, antes do advento da soroterapia. Além de inaugurar, particularmente na medicina e história natural, o uso do microscópio na identificação de vermes e diagnóstico clínico, Otto Wucherer foi o responsável pelas primeiras pesquisas que relacionaram a zoologia, a clínica e a terapêutica dos acidentes por serpentes no Brasil. Pouco depois, vem a falecer o pesquisador, com 53 anos de idade, em 1873, deixando respeitável bagagem científica e ostentando o título de ‘’precursor da medicina experimental’’ no Brasil.
A ESCOLA TROPICALISTA

Escola Tropicalista Bahiana e seus membros. Fonte: Gazeta Médica da Bahia (1966-67)

Escola Tropicalista Bahiana e seus membros. Fonte: Gazeta Médica da Bahia (1966-67)

Na década de 1860, do século XIX, surgiu na Bahia um grupo de 14 médicos nacionais e estrangeiros, fora do circuito acadêmico e da burocracia estatal, dedicados à prática de uma medicina voltada para a pesquisa da causa das doenças tropicais que acometiam as populações pobres do país, principalmente negros e escravos. Eles se reuniam quinzenalmente e revezadamente na casa de cada um deles, para discutir assuntos de interesse clínico. Foi esse núcleo de profissionais que posteriormente recebeu o nome de Escola Tropicalista Baiana, mas não se constituiu como uma instituição de ensino formal.  O grupo de tropicalistas chegou a contar com 20 a 25 homens e posteriormente com 30 médicos da Faculdade de Medicina da Bahia e 86 a 100 clinicando na cidade, mas isto, infelizmente, representava a minoria da comunidade médica baiana. Este movimento teve como propulsor o médico inglês John Paterson (1820-1882), juntamente com o médico luso-germânico Otto Wucherer (1820-1872) e o médico português José Francisco da Silva Lima (1826-1910). Estes médicos estrangeiros são também considerados os precursores e um marco na Medicina Experimental no Brasil, no âmbito das moléstias tropicais, na segunda metade do século XIX. Os “tropicalistas” contribuíram para a reformulação do modelo até então aceito da classificação de doenças brasileiras, questionando os conhecimentos dos europeus sobre os problemas de saúde pública no Brasil.

O espaço institucional de produção do conhecimento as discussões dos médicos da Escola Tropicalista Bahia, sobre os casos clínicos atendidos na Santa Casa da Misericórdia de Salvador; a forma de produção do conhecimento foi o laboratório, com a bancada, a cobaia, o cadinho e o microscópio; e a Gazeta Médica da Bahia, o veículo de difusão e validação do conhecimento produzido.
Embora alguns professores da Faculdade de Medicina da Bahia participassem de suas atividades, os membros fundadores não conseguiram se integrar ao corpo docente dessa instituição de ensino. Se a Escola Tropicalista Baiana fosse reconhecida pela Faculdade de Medicina da Bahia, seria a primeira Instituição científica de Medicina Tropical no Mundo. A prática e ensino dessa medicina eram exercidos informalmente no Hospital da Santa Casa da Misericórdia da Bahia, e a divulgação dos estudos realizados pelo grupo era feita através da Gazeta Médica da Bahia.

A partir de 1896, a Escola Tropicalista Bahiana entra em decadência, com a morte de Wucherer (em 1872) e Paterson (em 1882) e a figura de Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906), um de seus pesquisadores, que abandona o estudo da Bériberi.Ele constata que não existe, na Bahia, possibilidade de se efetuar pesquisa rigorosamente científica, por falta de pessoal especializado, equipamentos de laboratórios e materiais e recursos. Em 1897, aponta a decadência do ensino teórico e prático da Faculdade de Medicina e encerra a carreira de patologista de doenças tropicais.

Capa da Gazeta Médica da Bahia -Volume IX - Tomo I. Fonte: Julian Livros

Capa da Gazeta Médica da Bahia -Volume IX – Tomo I. Fonte: Julian Livros

O grupo da Escola Tropicalista baiana divulgou os primeiros trabalhos significativos de medicina experimental no Brasil na Gazeta Médica da Bahia (GMB), lançada em 10 de julho de 1866. Esta revista foi crucial para o sucesso dos Tropicalistas e constituiu sem dúvida, um acontecimento marcante na história da medicina do Brasil. Os Tropicalistas estavam interessados não apenas na medicina conduzida pela erudição clássica ou posição política e social, mas na medicina conduzida pela excelência científica. Dos quarenta e nove trabalhos publicados, vinte e oito estão presentes na Gazeta Médica da Bahia (1866-1869). Circulou regularmente entre 1866 e 1934, como um dos melhores e mais caros patrimônios de cultura do Brasil. Não há exemplo no Brasil, de um periódico que tivesse vida tão longa, mais de um século. Também não há outro que tenha contribuído tanto e com singular originalidade para o conhecimento de problemas básicos da patologia regional. Cumpriu fielmente os princípios a que se propôs no seu primeiro editorial, dentre os quais lutar pela união, dignidade e independência da profissão de médico e estudar as questões no campo da medicina que mais particularmente interessam ao nosso país.


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Em 1866 dos seis trabalhos de Wucherer, destacam-se quatro sobre a opilação ou cansaço. Em 1867, dos sete, três trabalhos se referem à serpentes e seus tratamento. No ano de 1868, das sete publicações, três versaram sobre a epidemiologia da tísica no Brasil e o primeiro trabalho sobre a presença de microfilárias, que posteriormente foram descritas como Wuchereria bancrofti (“Notícia preliminar sobre vermes de uma espécie ainda não descrita, encontrados na urina de doentes de hematúria intertropical no Brasil”). Em 1869, os oito trabalhos se referiram ao Ankylostomus duodenale e a ancilostomíase.

Elapomorphus scalaris = Xenopholis scalaris . Foto de Marina Marchezini

Elapomorphus scalaris = Xenopholis scalaris . Foto de Marina Marchezini

Wucherer trouxe da Alemanha a prática do microscópio na identificação de vermes e o diagnóstico clínico e do escalpelo. Contribuiu para o primeiro volume da Gazeta Médica da Bahia com trabalhos sobre a moléstia vulgarmente denominada Opilação e Cansaço, com a descrição do Aucylostoma duodenale por ele descoberto pela primeira vez no Brasil, em dezembro de 1865.    Foi o primeiro herpetólogo a atuar neste país e durante 21 anos (de 1860 a 1871) coletou, identificou e descreveu novas espécies da ofidiofauna brasileira, particularmente as serpentes.

Referências:

  • CONI, Antônio Caldas. A Escola Tropicalista Baiana. Bahia: Livraria Progresso Editora, 1952. (IHGB)
  • PEARD, Julyan G. The Tropicalista School of Medicine of Bahia, 1860-1889. Columbia, USA: UMI, 1990. (BCOC)
  • Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832 – 1930) Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz.
  • FALCÃO, Edgard de Cerqueira. Contribuições Originais da “Escola Tropicalista Baiana”, 1975
  • TORRES, L. – Os grandes clínicos do segundo reinado (1) – Da cidade de Salvador, Bahia. F. MÉD.(br), 80(5):709-713, 1980.
  • SILVA LIMA, J.F. 1906. Traços biográficos de Otto Wucherer. Gazeta Médica da Bahia, 38:3-28
  • BARROS, Pedro Motta de. 1997-1998. Alvorecer de uma nova ciência: a medicina tropicalista baiana. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, 10(1):151-172.
Como citar esta página: – Brazil, T.K. (organizadora), Soeiro, M. S., Lira-da-Silva, R. M.. Otto Edwar Heinrich Wucherer. Museu Interativo da Saúde na Bahia. Disponivel em: https://www.misba.org.br/heroi/otto-edwar-heinrich-wucherer/. Acesso em: 09/11/2024 23:13:43.