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HEROIS DA SAÚDE

desbravadores

(1870 - 1939)
(1862 - 1906)
(1873 - 1961)
Juliano Moreira
(1872 - 1933)
(1884 - 1954)

Juliano Moreira

1872 1933
  • 1903Dirigiu o Hospício Nacional de Alienados, no Rio de Janeiro. Propôs a reforma do Hospício Nacional e a lei de assistência aos alienados.
  • 1908 Fundou a Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e Ciências Afins.
Juliano Moreira (o quinto da esquerda para direita) e Silva Lima (quarto da esquerda para direita) em evento técnico entre 1896 e 1902.   Fonte: Site Memorial Julianmo Moreira

Juliano Moreira (o quinto da esquerda para direita) e Silva Lima (quarto da esquerda para direita) em evento técnico entre 1896 e 1902. Fonte: Site Memorial Julianmo Moreira

Juliano Moreira nasceu em Salvador, Bahia, na antiga Freguesia da Sé, no dia 6 de Janeiro de 1872, filho de Manoel Moreira do Carmo Júnior e Galdina Joaquim do Amaral.

A condição de negro deveria ser um entrave para sua entrada em uma Faculdade, principalmente, considerando que a abolição da escravatura só viria por acontecer em 1888, três anos depois da sua entrada na Faculdade de Medicina.

Juliano Moreira foi um pioneiro e desbravador dos preconceitos da época em que viveu, pois não conseguiria ter a projeção que teve na vida sem vencer as dificuldades de ser negro e pertencer a classe social baixa, sem boas condições financeiras. Naquele período, estudar era luxo e privilégio de poucos. Somente pessoas de famílias tradicionais e que tinham alto poder aquisitivo conseguiriam chegar aonde este herói chegou. No entanto, Juliano matriculou-se na renomada Faculdade de Medicina da Bahia – FAMEB aos treze anos, graças ao vínculo que sua mãe tinha como doméstica na casa do Barão de Itapoã, seu padrinho e que foi um dos diretores da FAMEB (El-Bainy, 2007 – Memorial Juliano Moreira).

Doutorou-se aos 18 anos (1891), com a tese “Sífilis maligna precoce” e tornou-se professor substituto da FAMEB na seção de doenças nervosas e mentais aos 23 anos (Oda, e Dalgalarrondo, 2000). A partir de então especializou-se com cursos e estágios em vários países europeus, e foi em uma das suas viagens que encontrou a enfermeira Augusta Peick que se tornaria sua esposa no futuro. A sua preparação foi o que o fez chegar a ser o diretor do Hospício Nacional de Alienados (Rio de Janeiro), primeiro Hospício do Brasil, onde introduziu práticas que refletiam um profundo conhecimento do campo psiquiátrico mundial.

Juliano Moreira morreu na cidade de Correias, Rio de Janeiro, no dia 2 de Maio de 1933, sem deixar filhos (El-Baniny, 2007). Em sua homenagem, em 1936, o Governo da Bahia cria o Hospital Juliano Moreira que ao longo do tempo passou por modificações. Desde 2005, possui em sua estrutura física além do centro hospitalar, um arquivo, uma biblioteca e um museu, mantidos pelo Governo do Estado da Bahia.

Juliano Moreira promoveu uma revolução estrutural, sanitária e ética no Hospital dos Alienados no Rio desde que ocupou o cargo de diretor. Registros fotográficos mostram nitidamente leitos limpos, claros e com um aspecto digno, deixando de lado a visão sombria de masmorras com grades, correntes e maus tratos de épocas anteriores, para se tornar um lugar apropriado aos pacientes internos. É comum atribuir-se a Juliano a “paternidade” da psiquiatria no Brasil (Silveira, 2008). As ações do Dr. Juliano em abolir o uso de coletes, grades e camisas de força no Hospital dos Alienados foram revolucionárias e ousadas ao ponto de mudar a visão da  sociedade em relação aos doentes mentais. Como disse Afrânio Peixoto: “Juliano veio e mudou tudo” durante uma sessão ordinária em 23 de Maio de 1933 da Academia Brasileira de Ciências, da qual Juliano foi fundador (Peixoto, 1933). Foi autor da lei que da assistência que o governo deveria estender aos pacientes com problemas mentais em 22 de dezembro de 1903.

Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira possui 140 dos 400 leitos para internação em Salvador. Fonte: Bahia Reconcavo

Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira possui 140 dos 400 leitos para internação em Salvador. Fonte: Bahia Reconcavo

Destacou-se também na área da dermatologia, foi o primeiro pesquisador a identificar a leishmaniose cutâneo-mucosa, e buscou provar que a questão racial não motivava as doenças. Explorou a sifilografia e a parasitologia, além de ter sido membro de diversas sociedades médicas em todo o mundo.

Participou da Escola Tropicalista da Bahia e contribuiu por uma década com o conteúdo da Revista Gazeta Médica da Bahia, com o cargo de redator principal.  Em 1984 fundou a Sociedade de Medicina e Cirurgia da Bahia e da Sociedade de Medicina Legal da Bahia (1894). Psiquiatra, ocupou o cargo de diretor no Hospício Nacional dos Alienados (1903-1930), no  Rio de Janeiro. Mudou a estrutura física e estabeleceu novos modelos assistenciais no interior dos hospícios. Criou laboratórios dentro dos hospitais e introduziu a técnica de punção lombar e do exame céfalo-raquidiano como diagnóstico neurológico. Criou o Manicômio Judiciário, em 1911.Sua dedicação foi total e exclusiva para uma revolução psiquiátrica que mudou o perfil de assistências às pessoas com problemas mentais.

Cartaz comemorativo do nascimento do Juliano Moreira. Fonte: geledes.org

Cartaz comemorativo do nascimento do Juliano Moreira. Fonte: geledes.org

Juliano Moreira deixa o seu legado de paciência e simplicidade, a visão social de que as pessoas portadoras de problemas mentais também eram seres humanos, apenas doentes, e que deviam ser tratados como doentes, e não como anormais perante a sociedade.

A consequência de todo seu trabalho foi a verdadeira humanização dos manicômios, de forma que os doentes fossem tratados como doentes normais. “Leitos muito limpos, vasos de flores nos corredores, sala de música, com piano sempre dedilhado”, dizia o pai de Juliano, como apreciador de sua obra assistencialista (Perestrello, 2004). Considerando a situação em que se encontram os manicômios em geral, percebe-se que a luta de Juliano enfraqueceu e perdeu seu real sentido devido à fragilidade da área psiquiátrica e ao desleixo do governo. As instalações de uma maneira geral não mais estão como Juliano propôs e fez durante sua vida,  mas é fato que a situação melhorou devido aos seus passos iniciais.

Na cidade de Salvador encontra-se o Memorial Juliano Moreira (Memorial JM), que é um setor do Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira. Esse local visa relembrar e impedir que a memória deste herói seja apagada, o que revigora o tamanho da importância dos memoriais para a história dos heróis em todos os sentidos. Um dos objetivos deste memorial, que funciona desde meados de 2005 como uma junção de biblioteca, arquivo e museu, além da identificação e preservação do material sobre a vida e obra de Juliano Moreira, é a valorização e a divulgação desse material. O Memorial JM se encontra no Bairro do Cabula, próximo a rótula da Narandiba, na Avenida Edgard Santos, s/nº, com o CEP 41.211-021, sendo mantido pelo governo do estado da Bahia.

O coordenador do Memorial o Sr. Estênio Iriart El-Bainy tem expectativas quando a possibilidade de criar a “Casa Juliano Moreira” em um imóvel situado à Rua do Tesouro no centro histórico da cidade de Salvador, com objetos e materiais do herói, servindo como ponto de apoio para o resgate e assim valorização da história da saúde no estado da Bahia.

Dentre algumas homenagens dedicadas à Juliano estão hospitais nas cidades de Salvador-BA e João Pessoa-PB; como também em ruas de grandes cidades do país como São Paulo e Rio de Janeiro.   Entre seus legados na área de psiquiatria estão a fundação da Sociedade de Medicina e Cirurgia da Bahia (1894), da Sociedade de Medicina Legal (1894); a formulação de propostas e novos modelos assistenciais psiquiátricos (1903); aprovação da lei de assistência aos alienados em 22 de dezembro de 1903; fundação da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e Ciências Afins (1905); e a criação de laboratórios nos hospitais e introdução da técnica de punção lombar para o diagnóstico neurológico (1906). Além disso, no campo da antropologia, Juliano deixa o seu legado de proteção à raça negra através da exclusão da hipótese de que as doenças ligadas à saúde mental estavam atreladas à cor dos negros, o que viria a fortalecer suas bases científicas e culturais (El-Bainy,  2007).

Referências:

  • EL-BAINY, E.I. Juliano Moreira. O mestre/ A instituição. Memorial Juliano Moreira. Salvador, Bahia, 2007.  LIMA, E. Velho e Novo Nina. Governo do Estado da Bahia. 2000.
  • PERESTRELLO,M. Juliano Moreira – Um Mestre. Revista Arquivos Brasileiros de Psiquiatria, Neurologia e Medicina. Volume 98. Número 01. Jan-Fev-Mar. 2004.  
  • PEIXOTO, A. Juliano Moreira – Em Memória. Ata da Sessão Ordinária de 23 de maio de 1933 (P.18 a 36). Anais da Academia Brasileira de Ciências. Tomo V, n. 2, junho 1933. p. 81 a 97.  Daldalarrondo, P.;  Oda, A. M. G. R. Juliano Moreira: um psiquiatra negro frente ao racismo científico. Rev. Bras. Psiquiatr. vol.22 n.4 São Paulo Dec. 2000.
Como citar esta página: – Brazil, T.K. (organizadora), Santana-Junior, E. F., Casais-e-Silva, L. L.. Juliano Moreira. Museu Interativo da Saúde na Bahia. Disponivel em: https://www.misba.org.br/heroi/juliano-moreira/. Acesso em: 28/03/2024 20:42:52.