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HEROIS DA SAÚDE

tropicalistas

(1820 - 1875)
John Paterson
(1820 - 1882)
(1826 - 1910)

John Paterson

1820 1882
  • 1842Primeiro médico em Salvador a aplicar o método de Silvester (respiração artificial), em recém nascidos.
  • 1849Diagnostica a febre amarela na Bahia e seu caráter contagioso, junto com Wucherer, contestando os outros médicos baianos.
  • 1855Diagnostica junto com Whucherer, a coléra-morbo e seu caráter contagioso, contestando os outros médicos baianos.
  • 1865 Coordena o grupo “Escola Parasitológica e Tropicalista da Bahia” congregando médicos para praticar “assuntos científicos”.
Ilustração de J.Paterson. Fonte: Gazeta Médica da Bahia (1966-67)

Ilustração de J.Paterson. Fonte: Gazeta Médica da Bahia (1966-67)

John Ligerthood Paterson, nasceu na Escócia, graduou-se em medicina pela Universidade de Abberdeen, em 1841. Foi cirurgião pelo Colégio Real de Cirurgiões de Londres.xViajou para o Brasil aos 20 anos de idade estimulado por seu irmão mais velho, Alexandre Ligerthood Paterson, que havia estabelecido um consultório para a comunidade britânica em Salvador, Bahia – consultório que Paterson herdaria em 1843, quando seu irmão morreu.

O Dr. Paterson continuou a obra de caridade do  irmão e sempre atendeu as classes mais pobres. As pessoas já sabiam o caminho da casa do doutor inglês, onde iam em grande número todas as manhãs. John Paterson passou a maior parte de sua vida no Brasil como médico, embora tenha feito várias visitas à Inglaterra e à Escócia.

Em 1869, ele trabalhou com o cirurgião inglês Joseph Lister (1827–1912) em Edimburgo (Escócia) e foi iniciado no método antiséptico, o qual ajudou a introduzir na Bahia.

Paterson foi responsável pelo diagnóstico da febre amarela na Bahia, com auxilio de seu irmão Alexandre Paterson e do médico luso-germânico Otto Wucherer (1820-1872). Tanto a febre amarela quanto a cólera-morbo eram ambas doenças infecciosas que espalharam-se pelo resto do Brasil.
Na década de 1860, do século XIX, surgiu na Bahia um grupo de 14 médicos nacionais e estrangeiros, fora do circuito acadêmico e da burocracia estatal, dedicados à prática de uma medicina voltada para a pesquisa da causa das doenças tropicais que acometiam as populações pobres do país, principalmente negros e escravos. Eles se reuniam quinzenalmente e revezadamente na casa de cada um deles, para discutir assuntos de interesse clínico. Silva Lima, Wucherer e Paterson, a partir de 1865, começaram a reunir-se (de início na residência de Paterson) para debater para discutirem sobre casos clínicos, exames microscópicos, doenças importantes ou questões e novidades científicas. Foi esse núcleo de profissionais que posteriormente recebeu o nome de Escola Tropicalista Baiana, mas não se constituiu como uma instituição de ensino formal. Ao grupo juntaram-se quatro outros elementos interessados: Antônio José Alves, Januário de Faria, Ludgero Ferreira e Manoel Maria Pires Caldas.

Capa da Gazeta Médica da Bahia - Volume IX - Tomo I. Fonte: Julian Livros

Capa da Gazeta Médica da Bahia – Volume IX – Tomo I. Fonte: Julian Livros

As comunicações em 1866 resultaram em um meio de difusão: a Gazeta Médica da Bahia. O grupo de tropicalistas chegou a contar com 20 a 25 homens e posteriormente com 30 médicos da Faculdade de Medicina da Bahia e 86 a 100 clinicando na cidade, mas isto, infelizmente, representava a minoria da comunidade médica baiana. A Gazeta Médica da Bahia (GMB), lançada em 10 de julho de 1866. Esta revista foi crucial para o sucesso dos Tropicalistas e constituiu sem dúvida, um acontecimento marcante na história da medicina do Brasil. Os Tropicalistas estavam interessados não apenas na medicina conduzida pela erudição clássica ou posição política e social, mas na medicina conduzida pela excelência científica. Dos quarenta e nove trabalhos publicados, vinte e oito estão presentes na Gazeta Médica da Bahia (1866-1869). Circulou regularmente entre 1866 e 1934, como um dos melhores e mais caros patrimônios de cultura do Brasil. Não há exemplo no Brasil, de um periódico que tivesse vida tão longa, mais de um século. Também não há outro que tenha contribuído tanto e com singular originalidade para o conhecimento de problemas básicos da patologia regional. Cumpriu fielmente os princípios a que se propôs no seu primeiro editorial, dentre os quais lutar pela união, dignidade e independência da profissão de médico e estudar as questões no campo da medicina que mais particularmente interessam ao nosso país. Este movimento teve como propulsor o próprio John Paterson, juntamente com o Otto Wucherer e o José Francisco da Silva Lima. Estes médicos estrangeiros são também considerados os precursores e um marco na Medicina Experimental no Brasil, no âmbito das moléstias tropicais, na segunda metade do século XIX. Os “tropicalistas” contribuíram para a reformulação do modelo até então aceito da classificação de doenças brasileiras, questionando os conhecimentos dos europeus sobre os problemas de saúde pública no Brasil.

Para entender as doenças no Brasil rejeitaram a ideia de que a raça, o clima dos trópicos e de que os habitantes dos trópicos degeneravam irreversivelmente. Defendiam a ideia de que a maioria das doenças era universal, mas que a umidade e o calor as exarcebavam, assim como as particularizavam. Costumavam associar as doenças nos trópicos à pobreza, má nutrição, falta de saneamento, e às más condições de vida dos escravos e dos mais pobres. Desenvolveram, assim, trabalhos originais para a época em que foram produzidos, especialmente descobertas relacionadas à ancilostomíase, à filariose (elefantíase), ao ainhum (alteração nos dedos do pé), contribuindo para promover debates sobre parasitologia (estudo dos parasitas), e algumas doenças como a beribéri (falta de vitamina C), a tuberculose, a lepra, dracunculose e o máculo (diarréia que acometia os escravos novos).

Monumento sepulcraldo Dr.Paterson, erguio no Cemintério dos Inglese. Fonte: Gazeta Médica (1966-67)

Monumento sepulcraldo Dr.Paterson, erguio no Cemintério dos Inglese. Fonte: Gazeta Médica (1966-67)

Divulgou suas pesquisas na Gazeta Médica da Bahia. O espaço institucional de produção do conhecimento as discussões dos médicos da Escola Tropicalista Bahia, sobre os casos clínicos atendidos na Santa Casa da Misericórdia de Salvador; a forma de produção do conhecimento foi o laboratório, com a bancada, a cobaia, o cadinho e o microscópio; e a Gazeta Médica da Bahia, o veículo de difusão e validação do conhecimento produzido.

Embora alguns professores da Faculdade de Medicina da Bahia participassem de suas atividades, os membros fundadores não conseguiram se integrar ao corpo docente dessa instituição de ensino. Se a Escola Tropicalista Baiana fosse reconhecida pela Faculdade de Medicina da Bahia, seria a primeira Instituição científica de Medicina Tropical no Mundo. A prática e ensino dessa medicina eram exercidos informalmente no Hospital da Santa Casa da Misericórdia da Bahia, e a divulgação dos estudos realizados pelo grupo era feita através da Gazeta Médica da Bahia. A partir de 1896, a Escola Tropicalista Bahiana entra em decadência, com a morte de Wucherer (em 1872) e Paterson (em 1882) e a figura de Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906), um de seus pesquisadores, que abandona o estudo da Bériberi. Ele constata que não existe, na Bahia, possibilidade de se efetuar pesquisa rigorosamente científica, por falta de pessoal especializado, equipamentos de laboratórios e materiais e recursos. Em 1897, aponta a decadência do ensino teórico e prático da Faculdade de Medicina e encerra a carreira de patologista de doenças tropicais. Foram ainda elaborados outros três textos contendo informações sobre a história dos precursores da Escola Tropicalista da Bahia.

Referências:

  • CONI, Antônio Caldas. A Escola Tropicalista Baiana. Bahia: Livraria Progresso Editora, 1952. (IHGB)
  • PEARD, Julyan G. The Tropicalista School of Medicine of Bahia, 1860-1889. Columbia, USA: UMI, 1990. (BCOC)
  • Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832 – 1930) Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz.
  • FALCÃO, Edgard de Cerqueira. Contribuições Originais da “Escola Tropicalista Baiana”, 1975
  • TORRES, L. – Os grandes clínicos do segundo reinado (1) – Da cidade de Salvador, Bahia. F. MÉD.(br), 80(5):709-713, 1980.
  • SILVA LIMA, J.F. 1906. Traços biográficos de Otto Wucherer. Gazeta Médica da Bahia, 38:3-28
  • BARROS, Pedro Motta de. 1997-1998. Alvorecer de uma nova ciência: a medicina tropicalista baiana. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, 10(1):151-172.
Como citar esta página: – Brazil, T.K. (organizadora), Soeiro, M. S., Lira-da-Silva, R. M.. John Ligertwood Paterson. Museu Interativo da Saúde na Bahia. Disponivel em: http://www.misba.org.br/heroi/john-ligertwood-paterson/. Acesso em: 29/03/2024 11:39:05.