voltar VOLTAR
HEROIS DA SAÚDE

desbravadores

(1870 - 1939)
(1862 - 1906)
Pirajá da Silva
(1873 - 1961)
(1872 - 1933)
(1884 - 1954)

Pirajá da Silva

1873 1961
  • 1907 Identificou, ao microscópio, pela primeira vez no Brasil, o Treponema pallidum, bactéria causadora da sífilis.
  • 1908 Publicou o ciclo completo do Schistosoma mansoni (trematódeo causador da xistossomose), resultado de suas pesquisas.
Fotografia tirada na Faculdade de Medicina da Bahia, Terreiro de Jesus, Salvador, Bahia.

Fotografia tirada na Faculdade de Medicina da Bahia, Terreiro de Jesus, Salvador, Bahia.

Manuel Augusto Pirajá da Silva nasceu, em 1873, Camamu (BAHIA), filho de Maria Veridiana da Silva Pirajá com Eduardo Augusto da Silva. Depois de ter entrado na Faculdade de Medicina da Bahia – FAMEB, em 1891, mudou seu nome, adotando o sobrenome materno e passou a se chamar Manoel Augusto Pirajá da Silva.

Formou-se médico com 23 anos, pela Faculdade de Medicina da Bahia (1896), defendendo sua tese doutoral sobre “meningite cerebroespiral epidêmica”. Viveu em Amargosa, Manaus, Salvador e São Paulo (Brasil) e em Paris (França) e Hamburgo (Alemanha).

Em Hamburgo, fez estágio no Tropeninstitut, onde estudou doenças tropicais e publicou um notável trabalho descrevendo a cercária da esquistossomose (1912). Ao regressar a Salvador, encontrou triatomíneos infectados pelo protozoário Trypanosoma cruzi em Mata de São João, Parafuso e Candeias (FALCÃO, 2008).

Pirajá da Silva conviveu com Carlos Chagas com quem realizou os estudos preliminares das suas principais descobertas nas áreas da Medicina e da Parasitologia. Depois de ter entrado na Faculdade de Medicina da Bahia – FAMEB, foi solicitado (1911) pelo Comitê que escolheria candidatos ao Prêmio Nobel em 1912 e indicou Carlos Chagas (conforme publicado pelo Jornal de Notícias na Bahia, em 03/02/1913) (PRATA, 2008). Morreu em Salvador (Bahia), em 1961, com 88 anos.

Pirajá da Silva viveu na época dos grandes avanços na medicina tropical e primórdios da medicina experimental, no Brasil iniciados pelos médicos tropicalistas Otto Wucherer, John Paterson e Silva Lima. Muitas das doenças de origem desconhecida (lepra, lúpus, peste, cólera, malária, calazar, sífilis, tuberculose) estavam sendo esclarecidas através, principalmente, do advento da nova tecnologia óptica (microscópio) e da descoberta do mundo dos micróbios (microbiologia), derrubando a teoria dos miasmas e da geração espontânea. Paralelamente, chegou o progresso na terapêutica específica das doenças, nas vacinas e no diagnóstico imunológico. Foi a época das grandes epidemias de cólera (1855), varíola (1878), hanseníase (século XIX, principalmente), gripe espanhola (1918) e sífilis (1920). O porto de Salvador, além de porta de entrada de muitas mercadorias, era também de graves enfermidades, através de marinheiros de vários navios nacionais e estrangeiros, decorrente, principalmente, das péssimas condições de salubridade do porto e das embarcações. Não havia sistema de esgotamento sanitário nas habitações, os excrementos eram despejados em barris e destinados aos rios e praias.

Pirajá da Silva estudava as fezes humanas e tinha como equipamento mais sofisticado um simples microscópio. Tavares-Neto (2007), analisando a documentação desse período (1905-1908), disponível no acervo geral da FAMEB (1808-2007), ressalta a obstinação do Dr. Pirajá da Silva como professor-assistente da 1ª Cadeira de Clínica Médica, porque as condições disponíveis à pesquisa e ao ensino prático eram bastante precárias.  As Memórias da FAMEB de 1890 a 1924 e as Atas da Congregação desse mesmo período, atestam como não existia apoio para a pesquisa científica, inclusive o institucional.

Pirajá da Silva exerceu a clínica antes de iniciar a carreira de pesquisador e de professor como assistente da cátedra de Clínica Médica, com 29 anos (1902). Realizou suas primeiras observações sobre esquistossomose, em 1904, quando estudou os ovos do parasita eliminados por um doente em Salvador. Essa verminose promove um aumento no volume abdominal devido ao crescimento desproporcional do fígado e do baço, causado pelo vazamento de plasma através das veias rompidas, por isso, a esquistossomose é também conhecida como barriga-d’água.

Medalha em homenagem ao cinqüentenário da descoberta e identificação do Schistosoma  mansoni no Brasil

Medalha em homenagem ao cinqüentenário da descoberta e identificação do Schistosoma mansoni no Brasil

 

Em 23 de agosto de 1907, no laboratório no Hospital Santa Isabel da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, então o Hospital de ensino da FAMEB, observou o Treponema pallidum (causador da sífilis) pela primeira vez no Estado da Bahia e, provavelmente, no Brasil (Tavares-Neto, 2007). A descrição completa do Schistosoma mansoni (platelminto da classe trematóide causador da barriga d´’agua), foi publicada no periódico francês Archives de Parasitologie (1908), na língua desse país e o ciclo evolutivo do parasita, além do histórico da esquistossomose no Brasil na Renomada Gazeta Médica da Bahia (1917).

Verso de comenda em homenagem ao centenário da descoberta e identificação do Schistosoma mansoni.

Verso de comenda em homenagem ao centenário da descoberta e identificação do Schistosoma mansoni.

Em 1950 já se estimava em cerca de dois milhões e meio de exames de fezes positivos para ovos de Schistosoma mansoni no Brasil e 10 anos depois, a estimativa era de, pelo menos, seis milhões de esquistossomóticos no país. Atualmente, as prevalências mais elevadas são encontradas nos estados de Alagoas, Pernambuco, Sergipe, Minas Gerais, Bahia, Paraíba e Espírito Santo. Estima-se que pelo menos 35 milhões de brasileiros estejam sob risco de contaminação. Foi redator/colaborador da gazeta médica da Bahia entre Julho de 1919 e Junho e 1921 e foi citado pode Teixeira (2002) como colaborador da mesma.

Entre outros legados deixados ao longo da sua vida, destacam-se, além da identificação do Schistosoma mansoni ou Schistosoma americanum, a concentração da solução de tártaro emético para o tratamento da leishmaniose e do granuloma venéreo, o registro dos dois primeiros casos de blastomicose na Bahia e a descoberta do Triatoma megista, um dos transmissores da doença de Chagas.

Durante sua vida Pirajá da Silva não teve o devido reconhecimento por sua obra, determinação e pioneirismos, principalmente na Bahia. Após sua aposentadoria (1935), com 62 anos, foi morar em São Paulo onde colaborou cientificamente com a equipe do Instituto Butantan. Todo o laboratório que manteve e construiu na Faculdade de Medicina, no Terreiro de Jesus, se dispersou. Não se conhece o paradeiro de seu material de trabalho, como microscópios, anotações pessoais, lâminas. Na sala da congregação da Faculdade de Medicina, há um quadro com sua fotografia, porém não há qualquer alusão à sua extensa obra. No local onde mantinha seu gabinete, também não existe nenhuma indicação de que ali ficava um dos cientistas mais influentes do século XIX.  No Hospital Santa Isabel, onde passou vários anos pesquisando a esquistossomose, a placa descerrada pelo cinqüentenário de sua descoberta simplesmente desapareceu. Os mais de 15 mil livros de sua coleção encontram-se em São Paulo, na Biblioteca Mário de Andrade; e, peças de sua família, estão no Museu do Ipiranga (Tavares-Neto, 2007). Em 28 de Janeiro de 1954, dia de seu aniversário, recebeu o reconhecimento do Tropeninstitut de Hamburgo, por meio da Medalha Bernhard Nocht, pelo conjunto das suas contribuições à Medicina Tropical por voto unânime dos seus pares. O Ministro da Saúde, prof. Mário Pinotti, organizou a Comissão do Cincoentenário da descoberta do Schistosoma mansoni no Brasil a qual recomendou a instituição da Medalha Pirajá da Silva (Portaria Ministerial MS n° 391 de 23 de Outubro de 1958).

Selo de 2008, em homenagem ao centenário de descoberta do Schistosoma mansoni.

Selo de 2008, em homenagem ao centenário de descoberta do Schistosoma mansoni.

 

O que Pirajá da Silva nos deixou além das suas publicações, foi o exemplo de perseverança, humildade e honestidade científica.  Dois aspectos desses legados têm sido enfatizados pelos historiadores da área da saúde no Brasil: 1) na Saúde Pública, com a descoberta, no país, de uma endemia grave como a esquistossomose e, 2) no científico, relacionado ao reconhecimento de uma nova espécie de Schistosoma. Em 1950 já se estimava em cerca de dois milhões e meio de exames de fezes positivos para ovos de Schistosoma mansoni no Brasil e 10 anos depois, a estimativa era de, pelo menos, seis milhões de esquistossomóticos no país.

Referências:

  • ANDRADE, S. G.. Evolução dos Estudos Experimentais na Bahia. Gaz. méd. Bahia 2007;77:2(Jul-Dez):245-254
  • FALCÃO, E. de C. .  Necrológio Manoel Augusto Pirajá da Silva (1873-1961). Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, 103-106, 1961.
  • FALCÃO, E. de C. O incontestável descobridor do Schistosoma mansoni. Re-edição do livro de Edgard de Cerqueira Falcão (1959). Ministério da Saúde. 2ª. Edição; Manoel Augusto Pirajá da Silva. Centenário da Descoberta e Identificação do Schistosoma mansoni 1908-2008. Ministério da Saúde. Brasilia/DF, 2008
  • PRATA,, A..  Comemoração do centenário da descoberta do Schistosoma mansoni no Brasil, Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical  vol.41:6,  Uberaba Nov./Dez,  2008.
  • TAVARES-NETO, J.  Pirajá da Silva: Centenário em 2008 da descoberta do Schistosoma mansoni, artigo de José Tavares-Neto. Jornal da Ciência e-mail, SBPC, 2 de maio de 2007.
Como citar esta página: – Brazil, T.K. (organizadora), Costa, M. F., Brazil. Manoel Augusto Pirajá da Silva. Museu Interativo da Saúde na Bahia. Disponivel em: http://www.misba.org.br/heroi/manoel-augusto-piraja-da-silva/. Acesso em: 18/04/2024 23:32:47.